quinta-feira, 21 de outubro de 2010

LXVIII.

E fui tomada por horror, sentindo que tinha a certeza de que ele tinha entendido - como eu acho que entendo um ciclo de vida de lagarta a borboleta e outras coisas - como se dava minha existência e manobras. Sabia, ainda assim, que não. "Não sou borboleta, acho até que sou mais complexa, é isso que a gente fica agarrando pra verdade, sou muito mais coisa, sou mais até lagarta, quer saber? É impossível que você saiba que eu mexi no cabelo pra não me perder de mim, não é possível que eu tenha te deixado ver que meu rosto forma imagens gritantes pra que se veja a imagem, não o rosto. Nem o corpo, coisa alguma." Pensava que não, sabia que não, sentia que - sim - tinha perdido meus poderes de enganação. Eu mesma, que sou só ilusão de ótica.
Quase quis perguntar: você acabou de me ver simples? Viu verdade? Sabe das coisas que eu não sei sobre mim?
Jamais diria, minha garganta não tem a capacidade de deixar tomar forma esse tipo de nudez.

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