terça-feira, 22 de junho de 2021

LXXXVIII.

 A lembrança já é intoxicante, como você sabe morrer pra viver, gozar sem nenhuma certeza de conseguir voltar. É preciso não ter garantias, perder a noção do tempo e do espaço, da própria carne, mergulhar. É sagrada a violência do nosso encontro e o templo sou eu.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

LXXXVII.

Insípido, insosso, esse belo embrulho pra muito trabalho.

Alguém um dia há de ter a misericórdia de te dizer que o que você acha vago, é você que não preenche.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

LXXXVI.

Aprendi a desistir. Largar de mão.
Uma vida insistindo em fazer acontecer e consertar. Não por querer, porque não sabia fazer de outro jeito. Mas aí bate, quando a única coisa que não se fez é desistir, a verdade bate. Depois disso, perceber que quem estava rendida era eu. Se agarrar a um ideal, assim como a um lugar, a uma pessoa, é prender-se. Parece tão óbvio que dói. Parece tão óbvio que faz cócegas.
Uma noção de si que se baseava na capacidade de fazer acontecer e melhorar, sempre, já machucava, já era velha, já era tão seca, que um dia mudou. A noção de si precisa ser sobre si, sobre tudo, sobre a explosão cósmica do próprio coração. [Favor não inserir aqui piada sobre Cavaleiros do Zodíaco.]
Sabe sobre o que nada mais é? Aquela tristeza póstuma de arrastar correntes. Que peso do caralho, my man, eu devolvo.

Preciso de mãos pra agarrar o que me importa, sinto muito.

Preciso saber até onde isso aqui queima e que hora acaba. Preciso saber o que se passa na sua vontade, você acaba descobrindo que eu quero tudo que você conseguir imaginar.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

LXXXV.

Quero que nunca mais me encoste e, encostando, não me alcance. Mergulhar na dor da desconfiança pra ter motivo de ser leviana, vil.
Eu me descuidei, ou não é esse o nome? Mas você morre quando mata, isso eu vi.
Parece que machuca pra se machucar e não ter como voltar atrás, quando sente medo. Toda vez que sente medo.
Parece que suja o caminho de mesquinhez para que se atire, para ficar só. Para não pensar. Não posso pensar nisso, não posso mais pensar.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

LXXXIV.

Quero que me solte, e mergulhar na dor da desconfiança pra ter motivo de ser, leviana, vil.
E que se descuide para que me atire, eu quero... enganar, sujar, matar. Não posso pensar nisso, não posso mais pensar.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

LXXXIII.

Ciclos eternos nem sempre aprisionam, não, existem os que te abraçam, familiares e mornos. Descendentes, em espiral, hipnóticos, calmos, inofensivos, um pouco necessários, fáceis, inteligentes, bem elaborados e simples (!), até se alimentam sozinhos.Você abraça de volta, eles matam.

terça-feira, 24 de abril de 2012

LXXXII.

Descansar o dia todo e se alimentar à noite.
De pele, suor, de riso e deboche do que não pode, não deve e não cai bem.
Eu preciso de olhos nos meus olhos e de corpos no meu corpo, alguns em específico, por uns dias, uma semana, aí passa. Sempre passa, eu sempre passo, isso é o que fica. Continuar, assim, dizendo o que quero quando quero e que quero agora, mesmo, sim e claro. Dizendo o que penso e que a urgência é maior que eu e que a vontade é tudo que existe e vendo, um por um, os rostos assustados ou as conversas evasivas. Eu vejo tanta gente, tanta, dizendo que bom é assim, é! Dizer o que quer e o que quer do outro, com o outro, e ser vulnerável assim e ver daí o que acontece e ir atrás do que quer.
É sempre mentira, não é? Todo mundo escreve, não faz. Todo mundo inveja os personagens sangüíneos que quase saltam da tela pra te estapear quando se frustram e bebem e se mostram do avesso e ligam e falam sobre as piores coisas que aconteceram em suas vidas, é só perguntar. Porque sabem que todo mundo é vulnerável igual, de algum jeito, em algum lugar.
Dezenas, centenas, milhares de pessoas agitando uma massa cinzenta, com vontades furta-cor, admirando uma espontaneidade transbordante, sendo só de uma impulsividade química. Com medo de levar a sério e de não levar a sério, no dia da ressaca. Querendo saber se vão cobrar o cinema que combinaram ou aperecer pra visitar às duas da tarde, que desconfortável.