quarta-feira, 25 de agosto de 2010

LIX.

Bem de manhãzinha eu abri a janelinha. Um passarinho pousou na beiradinha da gradinha e disse pra mim:
Cê já devia ter morrido, sua puta.

domingo, 22 de agosto de 2010

LVIII.

Me dá
Eu quero
Como é que eu vivo sem?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

LVII.

É muito assustador, nada é mais assustador que descobrir um poço sem fundo, cheio de ressentimento. Descobrir que ser uma pessoa bem resolvida não impede que machucados não cicatrizados e a nunca cicatrizar se acumulem, um sobre um outro sobre aquele sobre o dia em que você tomou coragem pra responder porque não concordou e ela te bateu de tamanco.
É horrível saber que todas as hipocrisias e incoerências que ela me fez engolir eu não consegui perdoar. Se fossem só dela, sim. Carregadas e apontadas na minha direção, não.
É muito assustador, é muito grande. É horroroso ter um tipo de coisa que só o colo da minha mãe acalma e um outro tipo que a simples presença dela sufoca até a morte.
E pesa tanto, espera tanto, obriga tanto, grita tanto, destrata tanto, não enxerga tanto, exige tanto e marca tanto.
Um tipo de existência opressora que se faz única. A única da qual eu não consigo me livrar. O único grito que, até quando não cabe a mim, eu pego e guardo. Eu não consigo me desviar de nenhum dos males que ela me faz. Eu nunca aprendi a transformar em outra coisa.
Eu não quero calar ou fingir que não existe. É um poço enorme de ressentimento. E minha tia viu. E minha tia comentou. E minha tia achou engraçado e triste. E disse que era curioso ver essas coisas. Como uma pessoa não consegue compreender o mal que a outra faz e sem motivo. E como a outra não percebia e repetia sempre, e como o ciclo era sempre o mesmo. E como era difícil estrangular ou não a tristeza e a amargura. E como acontece igual. E como outra filha ressente outra mãe. E como se machuca, se cala, se faz calar, se destrata, se prende...
E eu falo de como é sempre feio, como é sempre desmedido, como nunca cabe. Como toda tentativa de compreender falha sempre na parte mais importante, como a tentativa de ajudar a não errar sempre nega ajuda onde se precisa, como toda concessão está atrelada a cobrança e culpa.
Só existe amor incondicional entre nós no silêncio e na minha casa se fala demais.
Só existe carinho sem fim na minha casa quando alguém tá doente, e eu quero ficar bem.
Só existe aconchego e compreensão quando tá todo mundo tranqüilo, mas e quando se precisa?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

LVI.

Até quando custa muito perguntar, quando custa, claro, manchar beleza e tranqüilidade com cores de febre e arranhões, quando custa apertar e ver que o outro não tem mais certeza de poder se sentir livre; ainda assim, sempre me custa mais não saber.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

LV.

Eu ficava mais confortável estando certa de tudo. Me perceber duvidosa me faz quase sentir insegurança em relação aos meus próprios planos desimportantes. E eu sei lidar com todas as coisas desimportantes.
Só porque sou eu, ainda existe a dúvida. Ele nunca nunca nunca vai conseguir se livrar das vontades mais feias que já teve, nem eu das vontades mais gostosas dele. Não é do meu interesse me livrar de vontades. É do interesse de todo mundo se livrar das minhas?
Não importa, não importa.